Difference between revisions of "O Tempo Nas Cidades"

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<br>Isso quer dizer que, paralelamente a um tempo que é sucessão, temos um tempo dentro do tempo, um tempo contido no tempo, um tempo que é comandado, aí sim, pelo espaço. O espaço permite que pessoas, instituições e firmas com temporalidades diversas, funcionem na mesma cidade, não de modo harmonioso, mas de modo harmônico. Não fosse assim, a cidade não permitiria, como São Paulo permite, a convivência de pessoas pobres com pessoas ricas, de firmas poderosas e firmas fracas, de instituições dominantes e de instituições dominadas. Também atribui a cada indivíduo, a cada classe social, a cada firma, a cada tipo de firma, a cada instituição, a cada tipo de instituição, formas particulares de comando e de uso do tempo, formas particulares de comando e de uso do espaço. Certo que Kant escreveu também que o espaço aparece como uma estrutura de coordenação desses tempos diversos. O espaço impede que o tempo se dissolva e o qualifica de maneira extremamente diversa para cada ator. Nesse momento em que o tempo aparece como havendo dissolvido o espaço, e algumas pessoas o descreveram assim, a realidade é exatamente oposta.<br> <br>A frase tem efeito teleológico, que produz os moradores como sujeitos de sua própria história, e é constitutiva de uma ética que valoriza o trabalho duro e a perseverança: nada vem facilmente. A glorificação (muitas vezes nostálgica) dos sujeitos da "luta", da "luta" em si e das relações sociais e comunitárias por estas engendradas convertem-se em evidência de força moral em diálogos intergeracionais. Perdi a conta de quantas vezes testemunhei situações em que pais repreendiam seus filhos por ter a vida "fácil". Como disse uma de minhas informantes sobre seus filhos de oito e dez anos: "Não dão valor a nada! Abrem a torneira e sai água! Destrocei minhas costas carregando lata d'água! Água em casa e eles ainda reclamam!". Mas apesar das lutas cotidianas, pequenas vitórias sucedem-se, melhorias são implementadas e o futuro será melhor do que o passado. Nesses testemunhos podemos discernir uma narrativa subjacente que, na maioria das vezes, elabora a percepção de - progressivas, porém inegáveis - melhorias materiais do lugar.<br><br>O tempo é uma grandeza física presente não apenas no cotidiano como também em todas as áreas e cadeiras científicas. Contudo isto não significa que a ciência detenha a definição absoluta de tempo: ver-se-á que tempo, em ciência, é algo bem relativo, não só em um contexto cronológico - afinal, as teorias científicas evoluem - como em um contexto interno ao próprio paradigma científico válido atualmente. Em física, tempo é a grandeza física diretamente associada ao correto sequenciamento, mediante ordem de ocorrência, dos eventos naturais; estabelecido segundo coincidências simultaneamente espaciais e temporais entre tais eventos e as indicações de um ou mais relógios adequadamente posicionados, sincronizados e atrelados de forma adequada à origem e aos eixos coordenados do referencial para o qual define-se o tempo. Uma definição do mesmo em âmbito científico é por tal não apenas essencial como também, em verdade, um requisito fundamental.  If you beloved this article therefore you would like to be given more info with regards to [https://Abapdocu.com/index.php/O_Aqui-e-agora_Na_Gestalt-terapia:_Um_Di%C3%A1logo_Com_A_Sociologia_Da_Contemporaneidade Temp e temperatura] i implore you to visit our own website. Definido desta forma, o tempo parece algo simples, mas várias considerações e implicações certamente não triviais decorrem desta, mostrando mais uma vez que este companheiro inseparável de nosso dia a dia é mais misterioso e sutil do que se possa imaginar.<br><br>Bourdieu (1979) responde com uma leitura estruturalista da casa Berber, teorizada como o meio privilegiado para a incorporação das disposições sociais que produzem e são produzidas pelo habitus. A gentrificação e a suburbanização constituem campos estabelecidos de pesquisa acadêmica, sobretudo no campo da sociologia (particularmente na vertente norte-americana). Mercados imobiliários e condições habitacionais fornecem mapas concretos da desigualdade e da segregação nas grandes cidades. Mais tarde, elaborou o próprio mercado imobiliário como lugar para se pensar a construção social do valor (Bourdieu, 2001). E esses são apenas alguns exemplos clássicos de como a antropologia já buscou na casa uma chave de interpretação e apreensão das regras e dos valores sociais de diversas sociedades. No entanto, essas abordagens tendem a se aplicar a sociedades ditas primitivas - ou então distantes no tempo, como a literatura sobre as cidades medievais. Será que a moradia perde seu potencial interpretativo em sociedades complexas, capitalistas? Certamente não; as condições habitacionais constituem uma importante fonte de conhecimento sobre a sociedade, sobretudo conhecimento estatístico, na forma de estatísticas.<br><br>A economia pobre trabalha nas áreas onde as velocidades são lentas. A partir do momento em que eu crio objetos, os deposito num lugar e eles passam a se conformar a esse lugar, a dar, digamos assim, a cara do lugar, esses objetos impõem à sociedade ritmos, formas temporais do seu uso, das quais os homens não podem se furtar e que terminam, de alguma maneira, por dominá-los. Do aeroporto ao centro da cidade vai-se muito depressa, criam-se condições materiais para que o tempo gasto na viagem seja curto. Os objetos nos comandam de alguma maneira, mas esse comando dos objetos sobre o tempo consagra, no meu modo de ver, essa união entre o espaço e o tempo, tal como nós geógrafos o vemos, mas, evidentemente não o espaço e o tempo dos filósofos tout court. Aqui, a materialidade impõe um tempo lento. Não naquele sentido a que Maffesoli se reportou, quando disse que os objetos deixaram de ser obedientes e passaram a nos comandar. Quem necessita de velocidades rápidas é a economia hegemônica, são as firmas hegemônicas. É para esta classe que tem significação uma avenida como a dos Bandeirantes, ou estradas como a dos Bandeirantes e a Anhanguera, que são estradas que sobretudo interessam aos agentes hegemônicos e às pessoas ricas que usam melhor, do seu ponto de vista, essas estradas. Isso quer dizer que os pobres vivem dentro da cidade sob tempos lentos. São temporalidades concomitantes e convergentes que têm como base o fato de que os objetos também têm uma temporalidade, os objetos também impõem um tempo aos homens. Era o que eu tinha a dizer, pedindo ajuda e sugestões para o projeto de pesquisa. Já entre os bairros vai-se mais devagar, no sentido de que não há uma materialidade que favoreça o tempo rápido.<br>
<br>Transportar a cada dia quinze milhões de empregados de escritório, manter o serviço de eletricidade, de água, de televisão, administrar essa nossa população, tudo isso dependia de um só fator: o tempo! Caso contrário, os fusíveis saltavam e a recuperação do sistema seria muito cara. Daí, houve necessidade de descongestionar os horários, segundo a zona da cidade. Só se podia ligar a máquina de lavar, postar uma carta ou tomar um banho, durante uma faixa determinada de tempo. No edifício que, antigamente, era um dos maiores parlamentos do mundo, isto é, o lugar onde se faziam leis, nesse décor, de estilo gótico perpendicular, uma espécie de ministério do tempo estava pouco a pouco se constituindo, em torno de um relógio gigantesco. Um sistema de cartas coloridas e uma série de quadros publicados a cada dia, assim como programas de televisão, permitiam a cada pessoa sua localização dentro daquela faixa de tempo. Esse organismo não poderia subsistir senão sincronizando estritamente cada passo, cada refeição, cada chamada telefônica. Os carros tinham placas de cores diferentes, de acordo com o horário em que podiam circular, e assim o sistema se generalizou.<br> <br>Conforme corretamente sincronizados, contudo, uma fotografia de seus auxiliares tirada pelo observador na origem revelaria que o relógio de qualquer auxiliar mais distantes é por ele visto sempre atrasado em relação ao relógio de qualquer auxiliar situado em posição mais próxima. Os físicos referem-se a essa ideia de que tempo só se move para a frente como a "seta do tempo", e a ideia do tempo unidirecional parece ser verdadeira para a vida e os objetos em escala humana. O tempo t de um evento em um dado referencial corresponde assim ao mesmo que seria registrado caso se houvesse apenas um observador, o situado na origem, e apenas um relógio, o situado na origem, contudo subtraído do intervalo de tempo necessário para a luz propagar-se do local de ocorrência do evento - do local onde encontra-se o auxiliar que registra o evento - até o observador na origem do sistema de coordenadas.<br><br>Nestas escalas a definição apresentada mostra-se inadequada, certamente, e os requisitos tecnológicos nos levaram à era dos relógios atômicos. O padrão de tempo atual conforme estabelecido pelo Sistema Internacional de Unidades (S. I.) tem por base os princípios da relatividade, tendo por padrão periódico as oscilações da radiação eletromagnética. O Sistema Natural de Unidades é definido de forma que as principais constantes naturais, a saber a velocidade da luz C, a constante de gravitação G, a constante elétrica K na equação de Coulomb, a constante de Boltzmann k e a constante reduzida de Planck h (entre outras) assumam todas valor unitário. No contexto, outra unidade de tempo, esta pertencente ao Sistema Natural de Unidades e frequentemente usada ao se trabalhar com física moderna, merece menção particular: o tempo de Planck. Nos séculos sob domínio da física clássica apenas, a unidade de tempo e a unidade de comprimento em vigor eram preestabelecidas por conceitos independentes, e a velocidade da luz era medida experimentalmente, sendo especificados, portanto, seu valor e o valor da incerteza experimental.<br><br>Para Perls et al. Esse processo é uma totalidade, mas pode ser dividido em uma sequência de fundos e figuras proposta por Perls et al. Ou seja, o sujeito que se mantém em contato saudável com o mundo, está aware, ou seja, está alerta, presente, consciente de si mesmo e de suas possibilidades. Vimos, assim, a perspectiva por meio da qual se dão as relações entre organismo e meio, que acontecem sempre em ciclos que devem ser completados de modo a não deixar Gestalten inacabadas (Perls et al., 1997).  If you treasured this article and also you would like to get more info pertaining to Tempo Na Feira nicely visit the web site. No entanto, as interrupções podem ocorrer ao longo desse ciclo, gerando desequilíbrios, fixações que se manifestam sob a forma de patologias ou comportamentos disfuncionais. 1997), a experiência é essencialmente contato, é o funcionamento da fronteira entre o organismo e seu ambiente. Dessa forma, o contato saudável tem uma estreita relação com o manter-se consciente na situação presente. 1997): pré-contato, contato, contato final e pós-contato. É a awareness que permite a autopercepção que, por sua vez, possibilita uma vivência autêntica. O contato ocorre em um lugar denominado de fronteira e, de acordo com Robine (2006), designa o processo de ajustamento criador do organismo e seu meio.<br><br>No intervalo, eu me familiarizei com as categorias meta-históricas da "experiência" e da "espera" (ou "expectativa"), tais como foram trabalhadas pelo historiador alemão Reinhart Koselleck, com vistas a elaborar uma semântica dos tempos históricos. Interrogando as experiências temporais da história, ele pesquisava "como em cada presente, as dimensões temporais do passado e do futuro tinham sido postas em relação".3 3 KOSELLECK, Reinhart. Um colóquio, concebido pelo helenista Marcel Detienne, comparatista convicto, foi a ocasião de retomá-la e trabalhá-la em comum com um antropólogo, Gérard Lenclud. Le futur passé. Paris : EHESS, 1990, p. 307-329. É justamente aí que era interessante investigar, levando em conta as tensões existentes entre "campo de exercício" ("experiência" — NT) e "horizonte de espera" e estando atento aos modos de articulação do presente, do passado e do futuro. A noção de regime de historicidade podia assim se beneficiar de um diálogo entre (fosse por meu intermédio) de Sahlins com Koselleck: da antropologia com a história.<br>

Revision as of 06:55, 27 November 2021


Transportar a cada dia quinze milhões de empregados de escritório, manter o serviço de eletricidade, de água, de televisão, administrar essa nossa população, tudo isso dependia de um só fator: o tempo! Caso contrário, os fusíveis saltavam e a recuperação do sistema seria muito cara. Daí, houve necessidade de descongestionar os horários, segundo a zona da cidade. Só se podia ligar a máquina de lavar, postar uma carta ou tomar um banho, durante uma faixa determinada de tempo. No edifício que, antigamente, era um dos maiores parlamentos do mundo, isto é, o lugar onde se faziam leis, nesse décor, de estilo gótico perpendicular, uma espécie de ministério do tempo estava pouco a pouco se constituindo, em torno de um relógio gigantesco. Um sistema de cartas coloridas e uma série de quadros publicados a cada dia, assim como programas de televisão, permitiam a cada pessoa sua localização dentro daquela faixa de tempo. Esse organismo não poderia subsistir senão sincronizando estritamente cada passo, cada refeição, cada chamada telefônica. Os carros tinham placas de cores diferentes, de acordo com o horário em que podiam circular, e assim o sistema se generalizou.

Conforme corretamente sincronizados, contudo, uma fotografia de seus auxiliares tirada pelo observador na origem revelaria que o relógio de qualquer auxiliar mais distantes é por ele visto sempre atrasado em relação ao relógio de qualquer auxiliar situado em posição mais próxima. Os físicos referem-se a essa ideia de que tempo só se move para a frente como a "seta do tempo", e a ideia do tempo unidirecional parece ser verdadeira para a vida e os objetos em escala humana. O tempo t de um evento em um dado referencial corresponde assim ao mesmo que seria registrado caso se houvesse apenas um observador, o situado na origem, e apenas um relógio, o situado na origem, contudo subtraído do intervalo de tempo necessário para a luz propagar-se do local de ocorrência do evento - do local onde encontra-se o auxiliar que registra o evento - até o observador na origem do sistema de coordenadas.

Nestas escalas a definição apresentada mostra-se inadequada, certamente, e os requisitos tecnológicos nos levaram à era dos relógios atômicos. O padrão de tempo atual conforme estabelecido pelo Sistema Internacional de Unidades (S. I.) tem por base os princípios da relatividade, tendo por padrão periódico as oscilações da radiação eletromagnética. O Sistema Natural de Unidades é definido de forma que as principais constantes naturais, a saber a velocidade da luz C, a constante de gravitação G, a constante elétrica K na equação de Coulomb, a constante de Boltzmann k e a constante reduzida de Planck h (entre outras) assumam todas valor unitário. No contexto, outra unidade de tempo, esta pertencente ao Sistema Natural de Unidades e frequentemente usada ao se trabalhar com física moderna, merece menção particular: o tempo de Planck. Nos séculos sob domínio da física clássica apenas, a unidade de tempo e a unidade de comprimento em vigor eram preestabelecidas por conceitos independentes, e a velocidade da luz era medida experimentalmente, sendo especificados, portanto, seu valor e o valor da incerteza experimental.

Para Perls et al. Esse processo é uma totalidade, mas pode ser dividido em uma sequência de fundos e figuras proposta por Perls et al. Ou seja, o sujeito que se mantém em contato saudável com o mundo, está aware, ou seja, está alerta, presente, consciente de si mesmo e de suas possibilidades. Vimos, assim, a perspectiva por meio da qual se dão as relações entre organismo e meio, que acontecem sempre em ciclos que devem ser completados de modo a não deixar Gestalten inacabadas (Perls et al., 1997). If you treasured this article and also you would like to get more info pertaining to Tempo Na Feira nicely visit the web site. No entanto, as interrupções podem ocorrer ao longo desse ciclo, gerando desequilíbrios, fixações que se manifestam sob a forma de patologias ou comportamentos disfuncionais. 1997), a experiência é essencialmente contato, é o funcionamento da fronteira entre o organismo e seu ambiente. Dessa forma, o contato saudável tem uma estreita relação com o manter-se consciente na situação presente. 1997): pré-contato, contato, contato final e pós-contato. É a awareness que permite a autopercepção que, por sua vez, possibilita uma vivência autêntica. O contato ocorre em um lugar denominado de fronteira e, de acordo com Robine (2006), designa o processo de ajustamento criador do organismo e seu meio.

No intervalo, eu me familiarizei com as categorias meta-históricas da "experiência" e da "espera" (ou "expectativa"), tais como foram trabalhadas pelo historiador alemão Reinhart Koselleck, com vistas a elaborar uma semântica dos tempos históricos. Interrogando as experiências temporais da história, ele pesquisava "como em cada presente, as dimensões temporais do passado e do futuro tinham sido postas em relação".3 3 KOSELLECK, Reinhart. Um colóquio, concebido pelo helenista Marcel Detienne, comparatista convicto, foi a ocasião de retomá-la e trabalhá-la em comum com um antropólogo, Gérard Lenclud. Le futur passé. Paris : EHESS, 1990, p. 307-329. É justamente aí que era interessante investigar, levando em conta as tensões existentes entre "campo de exercício" ("experiência" — NT) e "horizonte de espera" e estando atento aos modos de articulação do presente, do passado e do futuro. A noção de regime de historicidade podia assim se beneficiar de um diálogo entre (fosse por meu intermédio) de Sahlins com Koselleck: da antropologia com a história.