O Tempo Nas Cidades

From jenny3dprint opensource
Revision as of 00:26, 3 November 2021 by ShondaBraden22 (talk | contribs)
Jump to: navigation, search


Isso quer dizer que, paralelamente a um tempo que é sucessão, temos um tempo dentro do tempo, um tempo contido no tempo, um tempo que é comandado, aí sim, pelo espaço. O espaço permite que pessoas, instituições e firmas com temporalidades diversas, funcionem na mesma cidade, não de modo harmonioso, mas de modo harmônico. Não fosse assim, a cidade não permitiria, como São Paulo permite, a convivência de pessoas pobres com pessoas ricas, de firmas poderosas e firmas fracas, de instituições dominantes e de instituições dominadas. Também atribui a cada indivíduo, a cada classe social, a cada firma, a cada tipo de firma, a cada instituição, a cada tipo de instituição, formas particulares de comando e de uso do tempo, formas particulares de comando e de uso do espaço. Certo que Kant escreveu também que o espaço aparece como uma estrutura de coordenação desses tempos diversos. O espaço impede que o tempo se dissolva e o qualifica de maneira extremamente diversa para cada ator. Nesse momento em que o tempo aparece como havendo dissolvido o espaço, e algumas pessoas o descreveram assim, a realidade é exatamente oposta.

A frase tem efeito teleológico, que produz os moradores como sujeitos de sua própria história, e é constitutiva de uma ética que valoriza o trabalho duro e a perseverança: nada vem facilmente. A glorificação (muitas vezes nostálgica) dos sujeitos da "luta", da "luta" em si e das relações sociais e comunitárias por estas engendradas convertem-se em evidência de força moral em diálogos intergeracionais. Perdi a conta de quantas vezes testemunhei situações em que pais repreendiam seus filhos por ter a vida "fácil". Como disse uma de minhas informantes sobre seus filhos de oito e dez anos: "Não dão valor a nada! Abrem a torneira e sai água! Destrocei minhas costas carregando lata d'água! Água em casa e eles ainda reclamam!". Mas apesar das lutas cotidianas, pequenas vitórias sucedem-se, melhorias são implementadas e o futuro será melhor do que o passado. Nesses testemunhos podemos discernir uma narrativa subjacente que, na maioria das vezes, elabora a percepção de - progressivas, porém inegáveis - melhorias materiais do lugar.

O tempo é uma grandeza física presente não apenas no cotidiano como também em todas as áreas e cadeiras científicas. Contudo isto não significa que a ciência detenha a definição absoluta de tempo: ver-se-á que tempo, em ciência, é algo bem relativo, não só em um contexto cronológico - afinal, as teorias científicas evoluem - como em um contexto interno ao próprio paradigma científico válido atualmente. Em física, tempo é a grandeza física diretamente associada ao correto sequenciamento, mediante ordem de ocorrência, dos eventos naturais; estabelecido segundo coincidências simultaneamente espaciais e temporais entre tais eventos e as indicações de um ou mais relógios adequadamente posicionados, sincronizados e atrelados de forma adequada à origem e aos eixos coordenados do referencial para o qual define-se o tempo. Uma definição do mesmo em âmbito científico é por tal não apenas essencial como também, em verdade, um requisito fundamental. Definido desta forma, o tempo parece algo simples, mas várias considerações e implicações certamente não triviais decorrem desta, mostrando mais uma vez que este companheiro inseparável de nosso dia a dia é mais misterioso e sutil do que se possa imaginar.

Bourdieu (1979) responde com uma leitura estruturalista da casa Berber, teorizada como o meio privilegiado para a incorporação das disposições sociais que produzem e são produzidas pelo habitus. A gentrificação e a suburbanização constituem campos estabelecidos de pesquisa acadêmica, sobretudo no campo da sociologia (particularmente na vertente norte-americana). Mercados imobiliários e condições habitacionais fornecem mapas concretos da desigualdade e da segregação nas grandes cidades. Mais tarde, elaborou o próprio mercado imobiliário como lugar para se pensar a construção social do valor (Bourdieu, 2001). E esses são apenas alguns exemplos clássicos de como a antropologia já buscou na casa uma chave de interpretação e apreensão das regras e dos valores sociais de diversas sociedades. No entanto, essas abordagens tendem a se aplicar a sociedades ditas primitivas - ou então distantes no tempo, como a literatura sobre as cidades medievais. Será que a moradia perde seu potencial interpretativo em sociedades complexas, capitalistas? If you liked this short article and you would certainly like to get even more details regarding Temperatura do Tempo aqui kindly see our own web site. Certamente não; as condições habitacionais constituem uma importante fonte de conhecimento sobre a sociedade, sobretudo conhecimento estatístico, na forma de estatísticas.

A economia pobre trabalha nas áreas onde as velocidades são lentas. A partir do momento em que eu crio objetos, os deposito num lugar e eles passam a se conformar a esse lugar, a dar, digamos assim, a cara do lugar, esses objetos impõem à sociedade ritmos, formas temporais do seu uso, das quais os homens não podem se furtar e que terminam, de alguma maneira, por dominá-los. Do aeroporto ao centro da cidade vai-se muito depressa, criam-se condições materiais para que o tempo gasto na viagem seja curto. Os objetos nos comandam de alguma maneira, mas esse comando dos objetos sobre o tempo consagra, no meu modo de ver, essa união entre o espaço e o tempo, tal como nós geógrafos o vemos, mas, evidentemente não o espaço e o tempo dos filósofos tout court. Aqui, a materialidade impõe um tempo lento. Não naquele sentido a que Maffesoli se reportou, quando disse que os objetos deixaram de ser obedientes e passaram a nos comandar. Quem necessita de velocidades rápidas é a economia hegemônica, são as firmas hegemônicas. É para esta classe que tem significação uma avenida como a dos Bandeirantes, ou estradas como a dos Bandeirantes e a Anhanguera, que são estradas que sobretudo interessam aos agentes hegemônicos e às pessoas ricas que usam melhor, do seu ponto de vista, essas estradas. Isso quer dizer que os pobres vivem dentro da cidade sob tempos lentos. São temporalidades concomitantes e convergentes que têm como base o fato de que os objetos também têm uma temporalidade, os objetos também impõem um tempo aos homens. Era o que eu tinha a dizer, pedindo ajuda e sugestões para o projeto de pesquisa. Já entre os bairros vai-se mais devagar, no sentido de que não há uma materialidade que favoreça o tempo rápido.